Jaime Semprun

Jaime Semprun (1947-2010) foi um ensaísta e editor nascido em Paris. As suas primeiras obras foram publicadas na icónica Champ Libre: La Guerre sociale au Portugal (1975), Précis de récupération (1976), La Nucléarisation du monde (1980; 1ª Ed. portuguesa Antígona, 1982).

Em 1984, fundou a revista de conotação pós-situacionista Encyclopédie des Nuisances, activa durante oito anos e que lançou quinze fascículos de crítica social sistemática contra o horror da sociedade mercantil e o colapso da consciência humana no contexto da aceleração da modernidade (vide antologia Encyclopédie des Nuisances – Da Insânia nas Ciências, nas Artes e nos Ofícios, Barco Bêbado, 2024).

A revista passa a casa editorial em 1993, publicando obras de Theodore Kaczynski, René Riesel, Jean-Marc Mandosio e Baudouin de Bodinat (a publicar na Cornuda Radiante), bem como textos de autores “clássicos” como Chuang-Tzu, Günther Anders e George Orwell.

Como autor, prossegue o seu minucioso escrutínio à ideologia do progresso: cimentando uma crítica irredutível contra o pensamento mágico associado à tecnologia, opondo-se ao predomínio destrutivo do maquinismo e denunciando a degradação cultural, a destruição das cidades e da vida humana, em obras como Dialogues sur l’achèvement des temps modernes (1993), L’Abîme se repeuple (1997), Défense et illustration de la novlangue française (2005) e Catastrophisme, administration du désastre et soumission durable (2008; em co-autoria com René Riesel).

Se de Karl Kraus se disse que “não se interessava por nada que pudesse apaziguar a sua cólera”, a escrita de Semprun nunca se interessou por nada que pudesse apaziguar a sua crítica à falsa consciência e à alienação moderna.

Ciente de que “o que estabelece limites à dúvida é a vontade de agir”, nunca se cristalizou na produção teórica e, ao contrário da norma, “sujou” as mãos em várias acções enquadráveis no ecologismo radical.

Com o seu inventário da barbárie da sociedade industrial totalitária – da sociedade de consumo à estupidificação cultural, do produtivismo à poluição e à energia nuclear, da toxicidade alimentar à engenharia genética, e todas as principais causas inimigas da inteligência e da liberdade que fecham os caminhos ao ser –, a tradição das Nuisances saiu do papel e teve um impacto notório na agitação das águas, nomeadamente nas lutas contra a destruição do território, em especial nas contestações contra a rede de TGV e nas futuras ZAD francesas.