Em Diálogos sobre a Culminação dos Tempos Modernos, inspirado nos recursos dramatúrgicos de Brecht e em particular na obra “Diálogos de Refugiados” do autor alemão, Semprun afia o bisturi da dialéctica para dissecar a contra-golpe e sem indulgência a burla social, política, literária e histórica do século XX.
Na trama das conversas entre os protagonistas, que vão bebendo cervejas (ou as suas infectas versões actuais…) e desafiando trago a trago os lugares-comuns do pensamento político e das mentalidades da história contemporânea, o próprio dramaturgo d’ A Ópera dos três vinténs não escapa ileso – a par de tantos outros, de Proust a Freud, dos leninistas aos reformistas, dos teóricos de Frankfurt à esquerda identitária…
O autor francês não estraçalha apenas o beco atafulhado da materialidade produtivista e o seu desfecho no planeta doente; zurze a direito na alienação causada pelos valores da imaterialidade progressista, das mistificações liberais – a magia do crescimento económico, a sustentabilidade na catástrofe, a ditadura da novidade e da velocidade – às ilusões e nostalgias da esquerda.
Para os que cultivam a ironia azeda das correntes situacionistas como uma hóstia, sejamos desmancha-prazeres: Semprun revela um humor verdadeiramente cómico diante o colapso dos Tempos Modernos. Se face à mentira humana entramos nestes Diálogos para matar ou morrer, quem vive e escreve como Semprun não perde jamais nem siso nem riso.






